quarta-feira, 22 de julho de 2009

SOBRE O CÔMICO,O RISO...

(...)Além da sátira, podem também ser manifestações do cómico a ironia, o humor, a caricatura, o pastiche, a paródia, etc. Jean Sareil (1984) considera que uma das fontes privilegiadas do cómico textual consiste no recurso aos clichés, que tanto podem surgir tomados à letra como alterados.

Na história da Psicologia, da Filosofia e da Teoria Literária, existem diversas tentativas de explicação do fenómeno do riso. Aristóteles, na sua Poética, considera que o cómico consiste no prazer de nos rirmos daquilo que é desagradável ou que tem defeitos. Segundo Kant, seria na contradição entre a expectativa e a realidade que residiria a essência do cómico. Já para Schopenhauer, este resultaria da incongruência existente entre uma ideia e o objecto real a que se pretende aplicar essa ideia. Por seu lado, Vischer sugere o absurdo e a incoerência como causas do cómico.

O filósofo Francês Henri Bergson realizou um dos mais aprofundados estudos sobre o cómico. Na obra O Riso, encontram-se reunidos três artigos de fundamental importância para a compreensão dos mecanismos da comicidade. Bergson salienta que o cómico é um fenómeno exclusivamente humano, destacando ainda que este se dirige à inteligência. De acordo com esta teoria intelectualista, as emoções seriam um obstáculo à produção do riso. Seria assim necessária uma “anestesia momentânea do coração” (p. 19) para que o cómico produzisse o seu efeito. O vector essencial do pensamento deste filósofo consiste na ideia de que o riso tem uma função social (visa o aperfeiçoamento do Homem) e, por essa razão, o seu meio natural é a sociedade. Segundo este autor, “o riso deve preencher certas exigências da vida em comum, deve ter um significado social.” (O Riso, Guimarães Editores, Lisboa, 1993, p.21)

Os vários tipos de cómico surgem categorizados na obra de Bergson de acordo com uma perspectiva que faz residir na fusão entre o “mecânico” e o “vivente” a essência da comicidade. Assim, o cómico das formas resultaria essencialmente da rigidez adquirida por uma fisionomia e o cómico dos movimentos teria origem nas atitudes, gestos ou movimentos mecânicos com carácter repetitivo. Bergson associa a este tipo de cómico os artifícios usuais da comédia, referindo como exemplos “a repetição periódica duma palavra ou duma cena, a interversão simétrica dos papéis, o desenvolvimento geométrico dos quiproquós” (p. 37). O cómico de situação resultaria da repetição insistente de determinada acontecimento ou da inversão dos papéis das personagens face a uma dada situação. Poderia ainda resultar daquilo que Bergson designa como “interferência das séries” (p.74), ou seja, uma situação seria cómica quando pertencesse em simultâneo a duas séries de acontecimentos independentes e ao mesmo tempo se pudesse interpretar em dois sentidos opostos. O cómico de palavras teria origem na aplicação à linguagem dos processos de “repetição”, “inversão” e “interferência”. Ligado a este último tipo de cómico, estaria ainda a “transposição”. A paródia seria resultado de uma transposição do solene para o familiar. Por outro lado, o exagero resultante do processo de transposição da grandeza ou do valor dos objectos também poderia ser cómico. Bergson enquadra ainda neste processo a ironia e o humor. Concebendo a linguagem como uma obra humana, considera ser essa a razão por que ela pode produzir efeitos risíveis. Por fim, o cómico de carácter derivaria essencialmente da falta de integração da personagem na sociedade e de algo semelhante a uma distracção da própria personagem.(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM : http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/C/comico.htm

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